Manhã no hotel
No horizonte, o sol espreguiçou seus longos braços expulsando a noite. Janela aberta, suave embalar das cortinas, fios da manhã a invadir o quarto. Linhas douradas a lamber o cheiro do vinho, dos beijos e da fina poeira a dançar o dia deslizaram revelando contornos da cama, a ponta do travesseiro, seu rosto.
Nos lençóis, leve marola do respirar de um sono tardio. Ombro nu, nau à deriva em quase sonhos, entregue ao terno roçar da barba rala e dos lábios ainda acordados. A ponta do meu nariz correu a curva até a nuca. Tímido eriçar da pele, náufragos espalhados, ombro, nuca, braço.
Em abraço, acolhi náufragos, nau, sonhos a começar. Afoguei os olhos na claridade de seus cabelos. Um chá, uma tarde chuvosa no Leblon, várias vezes uma praça colorida em Londres, o silêncio de uma canoa rio abaixo, beijo suado no alto de uma pedra. Sorri.
No sorriso, canoas, beijos, praças a flutuar no quarto cheio daquela manhã insistente. Quis o sono, a noite de volta, mais de você.
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